Belo,
Piranha, Dequinha, Guaraná, o que esses nomes têm em comum? O que eles
representam para história de Lagarto? Certamente para os jovens esses passariam
despercebidos. No entanto, os mais vividos, ao ouvir esses nomes, são
acometidos por um silêncio acompanhado de um leve sorriso que acusa o resgate
na memória de um período, que em outrora, vislumbrou momentos marcantes do
futebol lagartense.
O
futebol, desde sua propagação nas camadas da sociedade, ganhou proporções que
encantam, arrastam multidões, despertam paixões criando vilões e heróis. Neste
cenário, Lagarto não ficaria a parte, somos exemplos desse clima de amor e às
vezes ódio, quando as cores que representam a terra da jaca estão em campo. E
foi assim, nesse ardente clima que na década de setenta, mais precisamente em
1972, a jovem equipe do Lagarto Esporte Clube (LEC) ganhava espaço e desbancava
os tradicionais times sergipanos, marcando em definitivo uma geração que tinha
o prazer de ir ao recém-inaugurado Paulo Barreto de Menezes, para assistir, nas
tardes de domingo, espetáculos que ainda hoje estão cravados na memória de
atletas e torcedores.
Quando
a bola rolou no dia 03 de abril do corrente ano, muitos ficaram espantados ao
presenciarem um elenco que marcaria a temporada sergipana, em campo, nomes já
conhecidos por suas conquistas em equipes do Estado, a exemplo de Manoel Carlos
e Sinval, oriundos da campanha vitoriosa do Tricolor da Serra em 1969. Piranha,
que para muitos foi um dos maiores goleadores já vistos por essas plagas. Belo
(também campeão pelo Itabaiana) e sua velocidade empolgante que por onde
passava deixava sua marca sendo disputado por grandes clubes de diversas
regiões do Nordeste.
No
entanto, a homogeneidade da equipe foi que aflorou diante dos seus adversários.
Com uma defesa segura, um meio campo compacto e um ataque avassalador, o
Lagarto não tomou conhecimento de seus adversários, a cada partida a certeza
que os representantes da terra da jaca era o time a ser batido. Para torcida alviverde
o grito de gol tornou-se uma prática rotineira, a estreia na competição já
demonstrara o que a torcida poderia esperar no certame, contra a tradicional
equipe do Santa Cruz de Estância, a esquadra verde e branca mostrou seu poder
de fogo, vencendo sem dificuldade por 5 a 3.
No
segundo encontro a confirmação que 72 entrariam para a história, desta feita, o
time comandado pelo Capitão Hunaldo atropelou a equipe do Estanciano por 6 a 0,
destaque para Piranha assinalando três vezes no encontro, marcas que o daria o
título de artilheiro isolado da competição, um verdadeiro demolidor das defesas
adversárias, um atleta que desafiava as impossibilidades e simplesmente
dominava a grande área.
Os resultados
positivos foram acontecendo, os adversários eram tirados do caminho com
vitórias maiúsculas, a equipe do Capitão Hunaldo empolgava os seus admiradores,
2 a 0 no Itabaiana, 7 a 1 no Propriá, foram apenas alguns resultados que
deixavam os lagartenses esperançosos em ver sua equipe campeã pela primeira
vez. Após dois turnos e muitas polêmicas, chegavam a decisão: Clube Esportivo
Sergipe e o Lagarto Esporte Clube, 3 partidas decidiriam quem seria o campeão
do certame. A primeira foi realizada no Batistão, vitória para os donos da
casa, 1 a 0. Com a vitória, o Sergipe poderia sagra-se campeão em pleno
Barretão já na segunda partida, contudo, o Lagarto se agigantou e venceu por 2
a 1, com gols de Ginaldo e Dácio. Agora só restava um confronto, todos os
olhares estavam voltados para o Lourival Batista, frente a frente as duas
maiores forças do Estado.
Em 1º de setembro, quando as equipes entraram
no tapete verde os objetivos eram diferentes, o Sergipe buscava o
tricampeonato, já o Lagarto tentava o seu primeiro título como profissional. Ao
rolar da bola os Alvirubros partiram para cima pressionando os lagartenses,
pressão que surtiu efeito quando aos 13 minutos Naninho abria o placar para o
time da capital, o gol não abalou os esmeraldinos, que partiram para cima e
buscaram o empate aos 26 minutos após o chute cruzado de Sinval que contou com
o desvio da defesa adversária. Com o empate, os papa-jacas se agigantaram e
tomaram conta da partida, mas, quando dominavam as ações foram surpreendidos
com o gol de Zé Pequeno, era o segundo do Sergipe.
Logo
no início da segunda etapa, um erro grotesco do árbitro da partida, o Sr Murilo
Duarte, mudaria os rumos do espetáculo após assinalar a marca da cal a favor do
Sergipe, os vermelhinhos ampliavam o resultado, prejudicando os alviverdes de
maneira inacreditável, a falha desestruturou a equipe que não conseguiu
reverter o quadro. Ao final da partida o Sergipe comemorava o título após uma
vitória por 4 a 2.
O
título não veio para a cidade de Lagarto, no entanto, o sentimento de dever
cumprido estava expresso no semblante dos atletas, dirigentes e torcedores. Uma
equipe recém profissionalizada dava seus primeiros passos de uma história
promissora, é bem verdade que ao longo dos anos, nossa agremiação viveu os
sabores e dissabores de um profissionalismo fascinante e decadente, vivendo de
incertezas, angustias e glórias.
Quem sou eu
- Renato Araujo
- Renato Araujo Chagas, graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe.
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