quarta-feira, 31 de agosto de 2022





Belo, Piranha, Dequinha, Guaraná, o que esses nomes têm em comum? O que eles representam para história de Lagarto? Certamente para os jovens esses passariam despercebidos. No entanto, os mais vividos, ao ouvir esses nomes, são acometidos por um silêncio acompanhado de um leve sorriso que acusa o resgate na memória de um período, que em outrora, vislumbrou momentos marcantes do futebol lagartense.

O futebol, desde sua propagação nas camadas da sociedade, ganhou proporções que encantam, arrastam multidões, despertam paixões criando vilões e heróis. Neste cenário, Lagarto não ficaria a parte, somos exemplos desse clima de amor e às vezes ódio, quando as cores que representam a terra da jaca estão em campo. E foi assim, nesse ardente clima que na década de setenta, mais precisamente em 1972, a jovem equipe do Lagarto Esporte Clube (LEC) ganhava espaço e desbancava os tradicionais times sergipanos, marcando em definitivo uma geração que tinha o prazer de ir ao recém-inaugurado Paulo Barreto de Menezes, para assistir, nas tardes de domingo, espetáculos que ainda hoje estão cravados na memória de atletas e torcedores.

Quando a bola rolou no dia 03 de abril do corrente ano, muitos ficaram espantados ao presenciarem um elenco que marcaria a temporada sergipana, em campo, nomes já conhecidos por suas conquistas em equipes do Estado, a exemplo de Manoel Carlos e Sinval, oriundos da campanha vitoriosa do Tricolor da Serra em 1969. Piranha, que para muitos foi um dos maiores goleadores já vistos por essas plagas. Belo (também campeão pelo Itabaiana) e sua velocidade empolgante que por onde passava deixava sua marca sendo disputado por grandes clubes de diversas regiões do Nordeste.

No entanto, a homogeneidade da equipe foi que aflorou diante dos seus adversários. Com uma defesa segura, um meio campo compacto e um ataque avassalador, o Lagarto não tomou conhecimento de seus adversários, a cada partida a certeza que os representantes da terra da jaca era o time a ser batido. Para torcida alviverde o grito de gol tornou-se uma prática rotineira, a estreia na competição já demonstrara o que a torcida poderia esperar no certame, contra a tradicional equipe do Santa Cruz de Estância, a esquadra verde e branca mostrou seu poder de fogo, vencendo sem dificuldade por 5 a 3.

No segundo encontro a confirmação que 72 entrariam para a história, desta feita, o time comandado pelo Capitão Hunaldo atropelou a equipe do Estanciano por 6 a 0, destaque para Piranha assinalando três vezes no encontro, marcas que o daria o título de artilheiro isolado da competição, um verdadeiro demolidor das defesas adversárias, um atleta que desafiava as impossibilidades e simplesmente dominava a grande área.

Os resultados positivos foram acontecendo, os adversários eram tirados do caminho com vitórias maiúsculas, a equipe do Capitão Hunaldo empolgava os seus admiradores, 2 a 0 no Itabaiana, 7 a 1 no Propriá, foram apenas alguns resultados que deixavam os lagartenses esperançosos em ver sua equipe campeã pela primeira vez. Após dois turnos e muitas polêmicas, chegavam a decisão: Clube Esportivo Sergipe e o Lagarto Esporte Clube, 3 partidas decidiriam quem seria o campeão do certame. A primeira foi realizada no Batistão, vitória para os donos da casa, 1 a 0. Com a vitória, o Sergipe poderia sagra-se campeão em pleno Barretão já na segunda partida, contudo, o Lagarto se agigantou e venceu por 2 a 1, com gols de Ginaldo e Dácio. Agora só restava um confronto, todos os olhares estavam voltados para o Lourival Batista, frente a frente as duas maiores forças do Estado.

 Em 1º de setembro, quando as equipes entraram no tapete verde os objetivos eram diferentes, o Sergipe buscava o tricampeonato, já o Lagarto tentava o seu primeiro título como profissional. Ao rolar da bola os Alvirubros partiram para cima pressionando os lagartenses, pressão que surtiu efeito quando aos 13 minutos Naninho abria o placar para o time da capital, o gol não abalou os esmeraldinos, que partiram para cima e buscaram o empate aos 26 minutos após o chute cruzado de Sinval que contou com o desvio da defesa adversária. Com o empate, os papa-jacas se agigantaram e tomaram conta da partida, mas, quando dominavam as ações foram surpreendidos com o gol de Zé Pequeno, era o segundo do Sergipe.

Logo no início da segunda etapa, um erro grotesco do árbitro da partida, o Sr Murilo Duarte, mudaria os rumos do espetáculo após assinalar a marca da cal a favor do Sergipe, os vermelhinhos ampliavam o resultado, prejudicando os alviverdes de maneira inacreditável, a falha desestruturou a equipe que não conseguiu reverter o quadro. Ao final da partida o Sergipe comemorava o título após uma vitória por 4 a 2.

O título não veio para a cidade de Lagarto, no entanto, o sentimento de dever cumprido estava expresso no semblante dos atletas, dirigentes e torcedores. Uma equipe recém profissionalizada dava seus primeiros passos de uma história promissora, é bem verdade que ao longo dos anos, nossa agremiação viveu os sabores e dissabores de um profissionalismo fascinante e decadente, vivendo de incertezas, angustias e glórias.

        Alguns atletas daquela campanha inesquecível continuam ao nosso redor, como é fácil encontrar pelas fervilhantes ruas da cidade, os nossos heróis de outrora, desconhecidos por muitos, acolhidos por outros. Transcorridos 50 anos da decisão, homens como Manoel Carlos e Israel podem em suas palavras nos levar em um passado não muito distante e nos fazer recordar de episódios que ficaram marcados para sempre no imaginário popular.