quarta-feira, 3 de outubro de 2018
Gabriela Lima*
(http://aguanovarumoaofuturo.blogspot.com    Fotos: Rubens Antônio)
Na obra "O homem e os seus símbolos", Carl Gustav Jung, importante psicanalista, discorre sobre a importância e o significado das mais diversas formas de representações simbólicas, sejam de caráter consciente ou inconsciente, e o quão estas influem no caráter subjetivo e coletivo de um meio social, seja do particular, expandindo-se para o público, ou o contrário. Fazendo-se um paralelo, tem-se Virgulino Ferreira da Silva, ou melhor, Lampião. Este, unido ao cangaço, configuração essencial da cultura nordestina, concretizou em si e na sociedade da época uma das mais puras formas de idealização simbólica.

Precipuamente, para que se entenda tamanha romantização, é necessário traçar-se um contexto histórico para a inserção dessa figura memorável. Por certo, o nordeste, naquela época, como em tantas outras, vivia um verdadeiro caos nos setores político, social e econômico. A fome e a seca castigavam os pobres, ressaltando a miséria preponderante. E, ainda, tinha-se, como herança do Período Regencial, a presença crescente dos "coronéis", que utilizavam-se da própria imagem para explorar, impor controle político e concentrar nas próprias mãos um número gigantesco de terras. Para as massas populares, pobres e desprovidas de justiça social, só se tinha a fé e a esperança como estímulo para mudança. Porém, surge neste mesmo cenário, Lampião. O cangaço, unido a essa figura, irá reiterar um novo, e pseudo, conceito de equidade. A instabilidade, aliada a insegurança, serviu de base alienadora, tornando os homicídios, roubos e estupros uma característica ínfima em meio a tamanho poderio e simbologia heroica. Os cangaceiros, mesmo não assumindo qualquer causa social, passaram a carregar uma bandeira.