sábado, 6 de julho de 2013
De alpercatas e gibão, a quadrilha lagartense mantém acesa a chama de uma tradição que encanta gerações.


O mês de junho guarda em sua essência raízes de um povo que soube como poucos agregar valores regionais a uma cultura originalmente religiosa. Dentre tantas representatividades dos festejos juninos, uma em particular nos chama atenção: a quadrilha, dança de origem francesa trazida para o Brasil pelos portugueses no período da colonização. Porém, ganhando novos traços tipicamente nordestinos, hoje a dança que em outrora deslumbrava os salões da corte portuguesa encanta e enche de alegria as salas de rebolco do nordeste brasileiro.

Se o tocante é quadrilha junina, a cidade de Lagarto não deixa a desejar, pois foram muitas quadrilhas que no percurso de uma história não muito distante, deixaram suas marcas em um terreno nada fácil de prosseguir e de marcar trajetórias de conquistas. “Na minha quadrilha só tem gente que brilha, só tem gente que brilha na minha quadrilha...”, já cantava Alcymar Monteiro. E assim, com muito brilho, esforço e união, foi que nos torrões do povoado Coqueiro de Cima, há exatos 21 anos, nascia uma das mais belas e tradicionais quadrilhas do agreste sergipano.


Pelos idos de 1992, jovens vislumbrados com as movimentações típicas do período no cenário escolar, começaram em tom de brincadeira uma admirável trajetória. A quadrilha que levou o nome de “Arrasta-pé” era formada por membros de uma mesma família e pessoas da própria comunidade, possibilitando um laço de respeito e muito afeto, chegando a somar vinte pares.

A proposta então oriunda de uma simples brincadeira surtiu efeitos e ganhou grandes proporções para o povoado. No entanto, no ano seguinte, o sonho teve que ser interrompido, uma vez que alguns membros se casaram, outros foram em busca de suas realizações profissionais em plagas mais distantes e o grupo, com um ano de existência, se desfazia. Contudo, a esperança de retornarem permanecia viva na alma de cada integrante da “Arrasta-pé”.


Dona Joaninha e a neta Iza Fraga
(Foto: Arquivo Pessoal)
Após longos anos de silêncio, a jovem Aldenir Fraga acendeu a chama dos antigos e convidou novos componentes para darem prosseguimento a um projeto adormecido. E de forma radiante, a quadrilha retornou suscitando a vibração e a alegria, símbolos maiores do grupo. Assim, em 2007, as comunidades dos povoados Coqueiro e Barro Vermelho puderam vibrar fervorosamente, ao som do triângulo, da zabumba e da sanfona, acompanhados das fortes pisadas da agora Quadrilha RENASCER.

Com o resultado satisfatório, a quadrilha prossegue até hoje, tendo como líder maior a matriarca da família, uma senhora simples e de sorriso fácil, carinhosamente conhecida na localidade por Dona Joaninha, que se orgulha por ver seus rebentos darem continuidade ao grupo, uma tradição que rompe gerações.
Marcadores Iza Fraga e Ivanilton
(Foto:Arquivo Pessoal)

As inovações também estão presentes na quadrilha, seja nos vestuários que são confeccionados ano a ano, seguindo o tema proposto para a apresentação, dos quais estilistas são responsáveis pela produção, seja nos membros da quadrilha. Um grande exemplo é a presença dos jovens Ivanilton e Iza Fraga, que brilhantemente ocupam atualmente o espaço de marcadores da quadrilha. Sem se esquecer da valorosa contribuição de Ginaldo, Forrozeiro da comunidade que por alguns anos cumpria com louvor esse papel.

A entusiasta Iza Fraga, além de marcadora e integrante, também corrobora de maneira direta para as organizações dos eventos, que são realizados no período junino. Somam-se à apresentação o casamento caipira e carroceatas que circulam e enchem de encantos e magias as ruas e povoados de Lagarto. Outras cidades, como Estância, Riachão e Boquim, já contemplaram a maestria e a dança repleta de autenticidade, típica de um grupo que carrega nas veias a força e o estilo do povo nordestino.

O grupo é mais que uma quadrilha: é uma escola na qual os componentes aprendem dia a dia com a simplicidade de Dona Joaninha, que, através do seu exemplo, aflorou na comunidade uma identidade própria, deixando através das manifestações culturais, um legado para filhos, netos e bisnetos.

1 comentários:

Ieda Costa disse...

No mês de junho as tradicionais quadrilhas dá brilho e encanta nossos olhos.