sábado, 21 de dezembro de 2013
Por: JOSÉ UESELE OLIVEIRA NASCIMENTO

A realidade social brasileira nunca mais será a mesma pós-1930, quando um novo elemento de difusão começava a sustentar a “ideologia” do poder daquela época. Imperceptivelmente uma nova “voz” começava a penetrar os lares brasileiros e a moldar suas concepções.

Pode parecer engraçado, mas o governo Vargas ao passo que fazia uso da censura para barrar a publicidade adversa a sua imagem pública, utilizou-se destes mesmos meios para enaltecer sua figura política – assim, ele se tornaria o “pai dos pobres”, sendo uma verdadeira ‘mãe’ para a classe elitista de seu tempo.

Não podemos deixar de lado aqui a crueza com que foi tratada a nossa educação, nesse período sombrio de controle social e ideológico. Apesar de ter existido em 1932, o “Escolanovismo”, movimento que buscou dar passos largos no sentido da inovação educacional brasileira, foi a certo ponto insuflado pelo Governo Vargas que incitou a adoção de livros para promover sua imagem pública.

Para assegurar essa imagem, construída através de práticas populistas, frente ao povo, Getúlio cria em 1939, na vigência do Estado Novo o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) - órgão controlador da opinião pública nacional no período -,assim definido pelo historiador Boris Fausto:
“( ...)...um verdadeiro ministério da propaganda , diretamente subordinado ao presidente da República, que escolhia seus principais dirigentes. O DIP exerceu funções bastante extensas, incluindo cinema, rádio, teatro, imprensa, literatura social e política, proibiu a entrada no país de “publicações nocivas aos interesses brasileiros”, agiu junto à imprensa estrangeira no sentido de se evitar que fossem divulgadas “informações nocivas ao crédito à cultura do país”, dirigiu a transmissão diária do programa radiofônico “hora do Brasil”, que iria atravessar os anos como instrumento de propaganda e de divulgação das obras do governo.”

O rádio foi, sem dúvida, o sustentáculo da ideologia varguista, enquanto se viviam os horrores da ditadura “perseguições, torturas e mortes” o que se divulgava nas transmissões eram as realizações do Salvador da pátria, ocultando das massas populares as mazelas da realidade social brasileira.
Na década de 50 essa “voz” ganhava imagens e se tornaria anos mais tarde a “nova rainha do lar”, a televisão foi o grande arrimo ideológico (manipulador) do regime militar (1964 – 1985).

Em preto e branco via-se os militares tomarem o poder. Foram anos de “cassação, censura, torturas e muitas mortes...” aos que se opuseram ao regime – os subversivos. O povo não se calou diante da opressão, nas ruas o chumbo falava mais alto, silenciando os rebeldes.

Nos idos de 1968, foi instituído o AI-5 (o Ato Institucional n°. 5), um “xeque- mate” pró- militares, com essa medida o governo assumia plenos poderes e voltava ao controle da imprensa subversiva, através do famigerado SNI (Serviço Nacional de Informação). Só para se ter uma ideia nas redações de jornais as notícias eram censuradas, os censores do governo cortavam matérias e riscavam fotos comprometedoras. Alguns jornais como forma de protesto publicavam receitas culinárias e poemas de Camões no lugar das informações confiscadas.

Durante o período Militar a educação foi enquadrada nos moldes ditatoriais, os educadores e estudantes se sentiam vigiados, a liberdade de expressão nas academias foi tolhida, muitos professores foram convidados a se aposentar compulsoriamente, outros educadores foram exilados e o currículo escolar estava mais para uma cartilha patriótica. Era como se a educação tivesse parado no tempo.

Nos anos 70 a ditadura militar entrava num processo de “recrudescimento”; a sensação de insegurança e medo era dissimulada pelo “encanto” exercido pela Propaganda forjada da televisão – que já era um fenômeno de massas. Na realidade, a relação entre programação televisiva e ações do governo acabava sendo uma verdadeira “troca de favores” onde a primeira sustentava a “boa imagem” do regime em benefício de assegurar o monopólio no setor das telecomunicações.

Mas, tudo isso chegaria ao fim no ano de 1984, quando o Brasil se unia no maior movimento popular de sua história , a campanha Diretas Já. Porém, nem todos estavam a favor. Por exemplo, os críticos do regime chegaram a acusar a Rede Globo de televisão de através dos noticiários do Jornal Nacional, conceder mais atenção à candidatura de Paulo Salim Maluf do que aos comícios em prol das Diretas para presidência.

Nos períodos de “repressão” pelos quais passou o país a liberdade de expressão nos foi negada, fomos obrigados a silenciar diante da opressão imposta, a ver e ouvir o que não queríamos; ficaremos eternamente marcados por aqueles momentos – que feriram profundamente nossas memórias e arranharam a vida nacional.

Foram muitas as sequelas deixadas, vistas e sentidas até hoje por nossa gente. Alienaram nossas mentes, consequentemente, engessaram nossas ações, e assistíamos atônitos aqueles aparelhos que produziam sons coloridos por imagens distorcidas. Diante do contexto opressor nos obrigaram a “comprar a ideologia vendida” pelo regime, usurpando-nos direitos preciosos ao convívio humano, a reflexão e a liberdade de expressão.

Referências:

ARRUDA, José Jobson de A.; Pilletti, Nelson. Toda a história. 7 ed. São Paulo: Ática, 1997.

COTRIM, Gilberto. Saber e fazer história. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 4 ed. São Paulo: Edusp/FDE, 1996.

KUPSTAS, MÁRCIA.(org). Identidade nacional em debate. São Paulo: moderna, 1997.

PILLETTI, Nelson; PILLETTI, Claudino. História e vida integrada. São Paulo: Ática, 2003.

SCHIMIDT, Mario furley. Nova história crítica. SãoPaulo, Nova geração, 2001.

1 comentários:

Álle fy disse...

Me senti de volta a um passado recente, nas suas maravilhosas aulas de história.
Abraços!
Állefy Emílio