Por: José Uesele e Renato Araújo
“Rádio, Universidade e Sergipanidade” assim foi intitulado um projeto do departamento de história da UFS, que ganhou corpo e alma através do programa RELICÁRIO CULTURAL que foi levado ao ar em 125 programas pela juventude FM nas manhãs de sábado em Lagarto. No intuito de dar voz e oportunidade aos artistas locais sejam eles conhecidos ou anônimos do cotidiano lagartense. Cantores, poetas, escritores, repentistas, pessoas que de diferentes formas definem um jeito particular de ser sergipano, desfilando seus talentos e nos enchendo de orgulho ao enaltecer nossa identidade e reforçando nosso bairrismo característico, traduzidos pelos sentimentos de sergipanidade e lagartinidade tão ao gosto daqueles que amam e valorizam seu torrão comum.
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Charge de Rogério Bonifácio, em homenagem
ao 100º programa. |
A existência desse projeto não seria possível sem a condução do professor Claudefranklin Monteiro, idealizador e âncora do programa que de forma ímpar e singular construiu de maneira fascinante o caminho a ser percorrido durante a realização dos programas (trazendo pautas instigantes e sempre antenadas com a realidade social do local ao âmbito Brasil-mundo), com seu vasto entendimento na área cultural aliada a sua visão sempre atenta aos debates que circundavam o cenário artístico, conseguiu unir versatilidade e prática pedagógica para direcionar aos ouvintes um programa repleto de inovações, em meio a temas em diversas áreas do conhecimento.
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Entrevista com Kiko Monteiro, nas trilhas
do cangaço. |
A perspicácia do professor e mestre atento aos jovens talentos, dentre os quais estudantes esmerados no seu exemplo, ao longo desse percurso em que o Relicário já conquistara uma legião de ouvintes. Foi ousadamente inserindo alunos de sua confiança que tornariam dentre em breve grandes promessas da radiofonia lagartense, a exemplo do carismático e prestativo Renato Araujo com sua voz grave e convidativa encantou os ouvintes por sua forma direta e coesa de comunicar.
Neste interim passaram pelo programa no desejo de contribuir com a propagação da cultura lagartense alunos sedentos de aprender esta arte de se colocar a disposição, uns participaram apenas nos bastidores, entre eles: Ruzilane Rabelo, Hervan Sostenes e Eron Márcio.Outros venceram a timidez e se agigantaram nos microfones foi o caso do amigo e estudante de história da UFS , Leandro Santana.
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Trio Xamego do Forró. |
Durante uma longa temporada o professor Claudefranklin Monteiro, Renato Araujo e o também professor José Uesele, cuja sabedoria, inspiração e superação fazem do mesmo um referencial para todos, sobretudo para juventude lagartense. Uesele diferencia-se desde cedo pelo seu engajamento no campo cultural, em destaque para sua liderança a frente de grupos culturais em seu povoado Alto da Boa Vista (estes últimos integraram o projeto oportunizados pelo amigo e mestre), formando assim o que eles mesmo gostavam de chamar carinhosamente de Quarteto Fantástico do Relicário.
Com os olhos marejados de lembranças queremos prestar saudosa homenagem ao programa RELICÁRIO CULTURAL que no último dia 13 de outubro completou um ano em que a voz da cultura lagartense se fez mais silenciosa, através deste programa muitos encontros culturais foram realizados, muitos ouvintes já estavam acostumados a sintonizar e permitir que a cultura lagartense adentra-se as residências com o cheiro de nossa terra.
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Claudefranklin Monteiro idealizador e âncora
do programa. |
Para tanto queremos eternizar nossas memórias relembrando todos aqueles que fizeram as manhãs de sábados mais coloridas de cultura e informação e assim homenagear nossa LAGARTINIDADE estampada no grito que ecoava na abertura do programa: “Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta dos seus vivos”.
O Relicário podia ser comparado a um céu pintado de estrelas e todos que passaram por lá deixaram seu brilho singular, e hoje nesta festa, ou melhor, neste banquete da alegria temos um leque de opções a serem lembrados, na verdade um menu (Banda Menu) de pessoas que fizeram valer o verdadeiro sentido do programa.
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Renato Araujo |
Recebemos os versos com cheiro e cor de nossa querida Lagarto do poeta Assuero, aprendemos com os escritos geniais de Luiz Antônio Barreto, aboiamos com os grupos culturais Louvor Sertanejo que carrega o nordeste em seu jibão e versejamos com o Tecendo a Manhã que tira a poeira dos nossos olhos desvendando o horizonte, passeamos com o Cobras e Lagartos que descortina os cenários com sua cor local.
Aprendemos a criar com a inventividade de Railton Faz (que carrega o verbo “fazer” até no nome), cantamos com todo fervor “Lagarto cidade maravilhosa, tú que és tão caprichosa pedaço do meu Brasil...” com o homem do berrante Antenor Nunes. Que história é essa? Assim nos ensinou há questionar o Dr. Biu Vicente de Pernambuco. Falando em Pernambuco lembramos dos repiques dançantes do frevo comandado pelo maestro Marcelo Mesquita.
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José Uesele |
Tivemos músicas para todos os gostos com talentos incontestes da nossa cidade ternura: o tenor Rodrigo Lopes, a seresta de Jota Evangelista, a levada popular de Roberto Costa, ouvimos a sanfona de Lourinho do Acordeon (o autêntico do forró).Tivemos as grandiosas presenças de Kalil (com seu estilo leve e autêntico), Rogério Bezz ( fazendo uma viagem a Caueira nos estúdios da emissora), a versatilidade de Max Mariano, passaram por lá a Studio Box e Azuleijo e Afonso Augusto (para os amantes do rock). Tivemos a honra de receber em nossos estúdios as bandas Lacertae e Zanimais( troncos frondosos do povoado Crioulo, berço cultural de um estilo inovador rock alternativo-regional).
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Leandro Santana |
Fomos agraciados com o carisma e fé do Pe. Raimundo Diniz, tivemos a companhia sempre afetuosa do querido Emerson Carvalho (o tanque de guerra), de Fábio de Oliveira destilando humildade e genialidade, a prosa fácil e popular de Neto de Zé Padeiro (trazendo as histórias do folclórico grupo dos Cangaceiros, foram músicos ao programa do quilate de Walter Souza e tivemos o privilégio de acompanhar as belas interpretações de Gessie Someday, ouvimos a voz maviosa de Bruna Vasconcelos,cantamos ao som da banda Xote Beijo (mandando forró pra galera) e fomos ao delírio cultural com o forró de raiz do Trio Xamego do Forró ( que também acompanham os Parafusos).
Fomos contemplados com a simpatia de André Barbosa (representando a Fundação Charles Brício), prestamos continência ao capitão Claudemir da marinha do Brasil. Aprendemos com os ensinamentos da entusiasta cultural Angélica Amorim , com a maestria do professor Rusel Barroso e as crônicas de Antônio de Medeiros.
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Ruzilane Rabelo |
Percorremos as trilhas do cangaço na companhia do vibrante Kiko Monteiro e de quebra contemplamos o seu talento musical juntamente com o maestro Cassinho no comando de Uns Bossais; apreciamos a aquarela social lagartense seguindo os traços do Talentoso Rogério Bonifácio, agradecemos a parceria do querido e entusiasta Laelson Correia (do site Lagartense.com), demos boas gargalhadas com o maior palhaço do Brasil Pilambeta e a turma do Salada com Farofa, essa turma é demais...! Emocionamos-nos com o saudoso Paulo de Bell e suas memórias futebolísticas, nos impressionamos com o poeta-mirim Douglas (autor do poema que representou Lagarto na etapa regional em Fortaleza. “O menino da cidade alegre”).
Valores culturais ganharam voz e foram oportunizados no Relicário quando aprendemos a aplaudir talentos até então desconhecidos como o cantor e compositor Chico Riacho, nos alegramos com o pagode envolvente do Skema do Samba (nos fazendo quebrar tabus e preconceitos) e nos emocionamos com a força de vontade do jovem cantor Messias do Country Boys que mesmo diante das limitações, os sonhos são maiores.
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Hervan Sostenes |
Vibramos com o título de cidadania aos integrantes da cinquentenária Banda e Orquestra Los Guaranis, tivemos debates esclarecedores com as guerreiras Mariana Emanuele e Joana Santos (no Dia da Consciência Negra), aprendemos mais um pouco sobre Lagarto com Floriano Fonseca, e ainda nos encantamos com o ballet, discorrido pela senhorita Evelize Vasconcelos.
É bem verdade, que ao longo desta inesquecível trajetória, nos deparamos com algumas pedras, que sempre fazem questão de atormentar aqueles que percorrem a instigante, porém, pouco valorizada área cultural. No entanto, a união entre os membros e as mensagens de força e incentivo dos familiares, amigos e ouvintes, não permitiram que o projeto fosse facilmente interrompido.
O tempo que ficou no ar (mais de cem exibições), foi o suficiente para torná-lo inesquecível e pertinente em seus objetivos. O programa conquistou um grande número de ouvintes, preencheu brechas existentes em uma sociedade desprovida de programações que enalteçam a cultura local e legou as famílias lagartenses um encontro semanal de arte, poesia e magias. O programa acabou, deixou de fazer parte do cenário cultural da cidade, mas, as lembranças jamais se apagarão para aqueles que nas manhãs de sábado acordavam a espera de ouvir O RELICÁRIO CULTURAL.
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