quinta-feira, 22 de junho de 2017

Por: Maria Paula*

“O homem é lobo do próprio homem”. Épico, chocante e acima de tudo verossímil, A lista de Schindler (Schindler’s list) é uma produção cinematográfica mundialmente premiada e conhecida por retratar o drama cotidiano dos judeus poloneses durante a Segunda Guerra Mundial. O contexto evidenciado pelo filme, contudo, não se encerra no nacionalismo cruelmente segregativo nazifascista: a zoomorfização e mercantilização do ser humano são temáticas contidas no decorrer do longa que remetem claramente à máxima hobbesiana.

No cenário prévio à “Solução Final”, a população judia vivia em guetos e, neles, Oskar Schindler encontrou mão-de-obra barata e expropriada para compor sua indústria de esmaltados. Aliás, ele não foi o único que, de forma oportunista e imoral, capitalizou o impacto social e político da ocupação da Polônia pelas forças alemãs. Tal posicionamento leva à constatação de que a responsabilidade pelo holocausto não pode ser atribuída unicamente à imagem de Adolf Hitler: apesar do domínio carismático exercido por ele, a mentalidade do povo germânico, que assistiu e apoiou a violação dos direitos civis dos judeus, estava repleta de crenças de teor discriminatório que proporcionaram a construção do líder.


Ainda sob prisma da formação de imagens simbólicas, também é relevante a evacuação dos guetos e a transição para os campos de concentração, onde aquela parcela da população seria executada ou se tornaria vítima do trabalho compulsório e experimentos científicos. “Não vão para o leste, com certeza. Eles odeiam vocês lá. Eu também não iria para o oeste, se eu fosse vocês”, disse um oficial russo para aos judeus ao fim da guerra. Tê-los como inimigos da prosperidade, ao mesmo tempo em que fortalecia o sentimento nacionalista alemão, culpabilizava um elemento fora do jogo político.

A sensibilização gradual de Schindler, dessa forma, não era comum dentro do contexto. Embora tenha enriquecido à custa dos aspectos econômicos e ideológicos do conflito, o empreendedor se dá conta da humanidade que, de fato, existe nos seus trabalhadores. Nesse momento, Goeth, encarregado pelo comando do campo de concentração, é abordado numa proposta de libertação daqueles que, até então, estavam prestes a serem deslocados para Auschwitz. 1.100 vidas são literalmente compradas e viriam a compor a lista homônima ao filme.

“A cada alma pertence um mundo diferente; para cada alma, toda outra alma é um além-mundo”. Diante da onda de intolerância observada atualmente, temáticas trazidas no filme mantêm sua relevância. Voltar-se para a história da humanidade e se deparar com episódios como o holocausto é uma tarefa que deve ser dotada de reflexão. Grupos políticos e econômicos continuam sendo, direta ou indiretamente, beneficiados pela construção de inimigos à “pureza” da sociedade. Validar esses interesses, portanto, não condiz com uma realidade aparentemente evoluída. Afinal, conforme o fragmento de “Assim falou Zaratustra”, de Nietzsche, a diferença é universal e não deve, como tal, ser o ponto de partida para o ódio.


Maria Paula, Aluna do 3º Ano, do Colégio José Augusto Vieira (CJAV)

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