sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Por Leonardo Barbosa*
Conhecido por suas façanhas e incomparável destreza, Virgulino Ferreira da Silva, ainda divide opiniões. Há quem acredite que Lampião foi um verdadeiro herói, análogo a Robin Hood. Contudo, como exposto pelo historiador Kiko Monteiro em uma palestra realizada no CJAV, o rei do cangaço foi, na verdade, um memorável vilão. Dessa forma, por que a figura do famigerado pernambucano foi idealizada? Como sua história contradiz tal romantização?
No período dos feitos de Lampião, o Nordeste enfrentava uma grave situação socioeconômica, além da concentração do poder político nas mãos dos oligarcas. Desde a mudança do eixo econômico (da cana-de-açúcar nordestina à mineração no Sudeste), e a subsequente transferência da capital brasileira para o Rio de Janeiro no século XVIII, a população da região sofria com fome e pobreza endêmicas, associadas às dificuldades impostas pelo clima e à negligência dos governantes. Nesse contexto, quando essas pessoas ouviram sobre Virgulino, seus conflitos com alguns coronéis e a recompensa que ele dava a ajudantes, atribuíram ao cangaceiro um caráter heroico. Com efeito, os nordestinos precisavam de alguém que representasse sua insatisfação e resistência.
Todavia, o filho de José Ferreira não correspondia a essa imagem criada. Segundo Kiko Monteiro, Lampião mantinha relações próximas com coronéis e políticos, como Eronides de Carvalho, governador de Sergipe à época. Ademais, a distribuição de recompensas era quase restrita aos coiteiros, a saber, pessoas, geralmente pobres, que davam informações valiosas aos cangaceiros. Outro fato que contradiz o mito é a violência utilizada pelo líder e seu grupo para subjugar indivíduos, de qualquer classe social, que desobedecessem ao rei do cangaço. Nesse sentido, estupros, destruição de patrimônio privado e público, mortes desnecessárias e sequestros eram comuns nas incursões do cangaço.
Como exemplo concreto da crueldade praticada pelo bando, pode-se citar a morte de Rosinha. Em consonância com o palestrante, após a morte de seu companheiro, a cangaceira pediu a Virgulino que fosse levada de volta a sua família. Ele, então, solicitou a um de seus homens que a levasse para um local distante, com o fito de que fosse executada. Perante tal acontecimento, fica evidente que sair daquela vida não era uma possibilidade, e quem tentasse seria assassinado. Além disso, verifica-se que as atrocidades se estendiam irrestritamente a todos que representassem uma ameaça (nesse caso, Rosinha poderia conceder informações às volantes), inclusive aos membros.
Diante do exposto, averigua-se que, em conformidade com o especialista supracitado e sua palestra, Lampião foi um bandido que não mediu esforços para obter o que queria e, para tal, utilizou meios reprováveis. Esse ícone da história brasileira, entretanto, não pode ser ignorado.
*Leonardo Barbosa, aluno do 3º Ano do Colégio José Augusto Vieira (CJAV).
Conhecido por suas façanhas e incomparável destreza, Virgulino Ferreira da Silva, ainda divide opiniões. Há quem acredite que Lampião foi um verdadeiro herói, análogo a Robin Hood. Contudo, como exposto pelo historiador Kiko Monteiro em uma palestra realizada no CJAV, o rei do cangaço foi, na verdade, um memorável vilão. Dessa forma, por que a figura do famigerado pernambucano foi idealizada? Como sua história contradiz tal romantização?
No período dos feitos de Lampião, o Nordeste enfrentava uma grave situação socioeconômica, além da concentração do poder político nas mãos dos oligarcas. Desde a mudança do eixo econômico (da cana-de-açúcar nordestina à mineração no Sudeste), e a subsequente transferência da capital brasileira para o Rio de Janeiro no século XVIII, a população da região sofria com fome e pobreza endêmicas, associadas às dificuldades impostas pelo clima e à negligência dos governantes. Nesse contexto, quando essas pessoas ouviram sobre Virgulino, seus conflitos com alguns coronéis e a recompensa que ele dava a ajudantes, atribuíram ao cangaceiro um caráter heroico. Com efeito, os nordestinos precisavam de alguém que representasse sua insatisfação e resistência.
Todavia, o filho de José Ferreira não correspondia a essa imagem criada. Segundo Kiko Monteiro, Lampião mantinha relações próximas com coronéis e políticos, como Eronides de Carvalho, governador de Sergipe à época. Ademais, a distribuição de recompensas era quase restrita aos coiteiros, a saber, pessoas, geralmente pobres, que davam informações valiosas aos cangaceiros. Outro fato que contradiz o mito é a violência utilizada pelo líder e seu grupo para subjugar indivíduos, de qualquer classe social, que desobedecessem ao rei do cangaço. Nesse sentido, estupros, destruição de patrimônio privado e público, mortes desnecessárias e sequestros eram comuns nas incursões do cangaço.
Como exemplo concreto da crueldade praticada pelo bando, pode-se citar a morte de Rosinha. Em consonância com o palestrante, após a morte de seu companheiro, a cangaceira pediu a Virgulino que fosse levada de volta a sua família. Ele, então, solicitou a um de seus homens que a levasse para um local distante, com o fito de que fosse executada. Perante tal acontecimento, fica evidente que sair daquela vida não era uma possibilidade, e quem tentasse seria assassinado. Além disso, verifica-se que as atrocidades se estendiam irrestritamente a todos que representassem uma ameaça (nesse caso, Rosinha poderia conceder informações às volantes), inclusive aos membros.
Diante do exposto, averigua-se que, em conformidade com o especialista supracitado e sua palestra, Lampião foi um bandido que não mediu esforços para obter o que queria e, para tal, utilizou meios reprováveis. Esse ícone da história brasileira, entretanto, não pode ser ignorado.
*Leonardo Barbosa, aluno do 3º Ano do Colégio José Augusto Vieira (CJAV).
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- Renato Araujo Chagas, graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe.
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